Os primeiros anos de vida são os mais importantes no desenvolvimento do sistema ocular. Durante os 6-7 anos iniciais, mas prolongando-se até aproximadamente os 10 anos, o sistema nervoso central deve receber a melhor informação visual possível para que os neurônios relacionados à visão sejam desenvolvidos. Caso a criança não tenha tal oportunidade, o processo de ambliopia se estabelece, ou seja, um ou os dois olhos serão condenados a não apresentar boa acuidade visual pelo resto da vida deste indivíduo.
Sendo assim, os pais precisam ter todo cuidado com a criança nesta fase em relação à saude ocular. Logo ao nascimento, a criança deve ser submetida ao teste do olhinho já na maternidade para se excluir causas que levam a baixa de visão severa como tumores, catarata congenital entre outras doenças.
Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, o acompanhamento das crianças deve ser semestral até os 2 anos de idade e, a partir daí, anual até os 10 anos, quando temos uma completa sedimentação da via neural relacionada ao sistema ocular.
Durante os primeiros exames, o oftalmologista procurará identificar erros refracionais grosseiros como alta hipermetropia, astigmatismo e miopia. É muito comum que as crianças sejam hipermétropes nesta fase e, muitas vezes esta hipermetropia diminui com o crescimento. Dependendo da faixa etária, podemos assumir que pequenas miopias ou astigmatismos podem ser bem tolerados pela criança sem a necessidade do uso de óculos.
O estrabismo é uma das causas comuns de baixa de visão na infância e existem diferentes formas desta doença, com diferentes formas de evolução em relação ao prejuízo que podem causar ao sistema visual. Grosseiramente na esotropia, os olhos desviam para dentro, enquanto na exotropia temos o desvio para fora. Pequenos desvios oculares até os 6 meses de idade são compreensíveis pela pouca maturidade do sistema visual. Quando o estrabismo é diagnosticado, é necessário que se identifiquem fatores associados como: prematuridade, uso de oxigênio na maternidade, erros refracionais (como a alta hipermetropia) e alterações congênitas do globo. O tratamento deve ser prontamente iniciado com oclusão do olho com melhor acuidade visual para que o olho amblíope (preguiçoso) se desenvolva. O acompanhamento de uma criança com ambliopia e estrabismo deve ser bastante criterioso e muitas vezes passa por cirurgia para correção completa do problema.
O uso de óculos nas crianças deve respeitar cada fase do desenvolvimento infantil. No início, para as crianças até os dois anos, muitas vezes as armações devem trazer fitas que prendam os óculos na parte posterior da cabeça. Para as crianças mais velhas, esse tipo de suporte pode ser retirado, mas a atenção é importante no sentido de que as lentes cubram de maneira satisfatória a área do campo visual da criança, impedindo que ela desvie o olhar por cima da armação. Os óculos devem ser resistentes para se evitar ao máximo a possibilidade de quebra e, por conta do crescimento da face, as crianças geralmente precisam de troca das armações a cada 6 meses.
Ptose é o nome que damos a uma pequena queda da altura palpebral (pálpebra caída). Comumente observamos crianças no consultório com leves ptoses, frequentemente não percebidas pelos pais. Desde que a queda da pálpebra seja pequena e não interfira com o eixo visual da criança, ou induza a formação de astigmatismo, o caso pode ser apenas acompanhado com visitas semestrais.
Aos pais, a mensagem mais importante é: “Fiquem literalmente de olho”. As crianças, na maioria das vezes, não reclamam de baixa de visão. Portanto, cabe a vocês a missão de trazer os pequenos para avaliação. Lembrem-se de que nesta primeira fase da vida, qualquer anormalidade não tratada pode interferir irreversilvemente na visão futura do seu filho.